-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

I. 2.

A Crítica de Arte





























Os poucos críticos de arte, em Portugal, que se interessavam pela experimentação  artística, saíam do país e documentavam as transformações nacionais e  internacionais. Egídio Álvaro, Melo e Castro, Rui Mário Gonçalves, José-Augusto França e Ernesto de Sousa, publicaram, em artigos espalhados por várias revistas e jornais, os acontecimentos que presenciaram na V Documenta de Kassel14 (de Junho a Outubro de 1972). Sobre essa exposição, Melo e Castro fala de uma "amostra de 'arte de pensar'" (1977: 176) e acrescenta ainda a "tremenda provocação do sentimento colectivo que existe dentro de cada um de nós" (1977: 177). Rui Mário Gonçalves, dá conta que "a arte não exige materiais e técnicas especiais: a imaginação criadora manifesta-se a partir seja do que for" (1972: 45)15. Na revista Colóquio Artes de Junho de 1970, Francisco Bronze (artista e crítico regular na revista Colóquio), acerca da exposição de Cruz Filipe, na galeria 111, chama a atenção para os "novos meios técnicos de expressão" e "as suas possibilidades de comunicar com sectores do público que até hoje têm ficado à margem do processo estético" (Bronze, 1970: 39). Em Ferereiro de 1971, também na Colóquio Artes, escreve sobre o trabalho de Jorge Martins, relembrando a rareza com que as notícias de artistas portugueses emigrados, chega a Portugal.16

Foi na revista Colóquio Artes, editada pela Gulbenkian (dirigida por José-Augusto França a partir de 1970) que muitos desses críticos encontraram o espaço para exaltar a actualidade cultural e artística.17 Uma das razões e talvez a principal, prende-se com o facto de nunca ter conhecido "limites de expressão literária ou artística." (França, 1974: 4). A música contemporânea não foi excepção e a crítica fazia questão de incluir  a opinião de compositores vanguardistas como Constança Capdeville e Jorge Peixinho, assinando artigos sobre as Jornadas de Música Contemporânea e Karlheinz Stockhausen, respectivamente.18

As exposições eram sempre uma boa ocasião para animar o debate artístico e a exposição da AICA  (Associação Internacional de Críticos de Arte), em 1974, foi um momento oportuno para rever o papel dos críticos de artes em Portugal. Foi isso mesmo que Fernando Bronze (1974:  66)19 fez , ao destacar o trabalho de Egídio Álvaro dando "conta duma problemática da comunicação e, porventura, da distribuição das artes."

Este "bombardeamento" cultural por parte da comunidade crítica, através dos meios de comunicação impressos, não se limitava apenas ao circuito institucional, contava igualmente com algumas publicações generalistas interessadas em assuntos da actualidade, como é o caso da revista Vida Mundial. Também aí se notava a abertura ao exterior e aos temas emergentes, recrutando os serviços de Ernesto de Sousa e Fernando Pernes  ao publicarem artigos relacionados com as artes plásticas.20

------------------------------------------------------------------------------------------------

14            Ver nota de rodapé (1), do capítulo I.6 Os 100 dias da 5ª Documenta, no livro Ernesto de Sousa Ser Moderno em Portugal. É também de sublinhar a importância que a revista Colóquio Artes desempenhava no pensamento crítico em Portugal. Francisco Bronze, colaborador regular da revista e bolseiro da Gulbenkian em 1969, insurge-se frequentemente sobre o problema da crítica de arte. Ver como exemplo as introduções dos artigos escritos nos números da Colóquio de Fevereiro e Junho de 1969 (42 e 54 respectivamente).

15            Colóquio Artes  nº 9, Outubro de 1972, 2ª Série / 14º Ano

16            Consultar no mesmo número (pp. 59, 60, 61), o artigo de Gil Miranda com o título os rumos da música concreta. O autor, escreve que Schaeffer "acabou por ultrapassar as fronteiras da música concreta e estender a sua doutrina a todas as formas de comunicação estética, incluindo designadamente as artes visuais." (Miranda, 1971: 60,61)

17            No catálogo da exposição Anos 70 Atravessar Fronteiras, Rita Macedo desenvolve o tema da acção crítica  da revista Colóquio. Escreve o seguinte, relativamente ao período em questão: "não é possível compreender a lógica das alterações que nele se produziram sem entender que este é o tempo em que a crítica de arte se institucionaliza e se impõe no panorama artístico português. (Macedo, 2009: 19). Para um estudo mais aprofundado da Colóquio Artes consultar a seguinte referência: ALVES: Margarida Brito (2007), A Revista Colóquio Artes, Lisboa, Edições Colibri.

18            Ver artigos na Colóquio Artes nº 6, 2ª Série / 14º Ano, Fevereiro 1972. Ver igualmente Colóquio Artes nº 18, de Junho de 1974 e o artigo de Stuchenschmidt (crítico e musicólogo alemão especializado em música contemporânea), sobre Xenakis e Penderecki. Sobre John Cage ver Colóquio Artes nº 20 (Dezembro de 1974).

19            Ver artigo carta de Lisboa na Colóquio Artes nº 16, 2ª Série / 16º Ano, Fevereiro 1974

20            SOUSA, Ernesto de, Nostalgia da pintura e antipintura, Vida Mundial, Nº 1590 (Novembro de 1969), pp. 61, 63; PERNES, Fernando, Gravuras modernas alemãs, Vida Mundial, Nº 1618 (Junho 1970), pp. 59, 60, 61. Em 1975 Ernesto de Sousa colabora regularmente na Vida Mundial, ficando responsável  pela secção de Artes Plásticas.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

I. 3.

Novos meios de comunicação